quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Mimos de Outono
Que tal, estas coisas dão-nos saudades de Pedome. E depois, vêm as nozes e prova-se o vinho novo, pois a aguardente já deve estar provada.
É assim esta terra que nos deu luz.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
As origens de Pedome, fim
No século XIII, com a progressiva
afirmação e centralização do poder régio, o sistema baseado nas
terras
começa a entrar em decadência e os tenentes a ser esvaziados das suas funções.
Paulatinamente, essas nomenclaturas começam a desaparecer na documentação,
passando, nos finais do século XIII, a haver referências aos julgados, espaços
civis e judiciais, confiados a juízes de nomeação régia (BARROCA 2003).
Se as civitates corresponderam a um modelo condal e as terras a um modelo
senhorial, os julgados corresponderam à afirmação do modelo régio, ou seja, à
política de centralização do poder e de controlo da nobreza, levada a cabo por
Afonso III e por D. Dinis (BARROCA 2003). A partir de
meados do século XIII começam a surgir nos castelos portugueses novas soluções arquitectónicas,
vocacionando-os agora para uma “defesa activa”, característica do castelo
gótico, feito não só para resistir aos assédios inimigos, mas também
para contra-atacar. Em 1258, nas Inquirições de D. Afonso III relativas ao
julgado de Rio Livre (Batocas), surge a referência ao nome de uma paróquia:“parrochia
SanctiPetri de Batocas”
(cit. in TEIXEIRA
1996), que se identifica com o mons/monte ou civitate/civitatelia de Batocas .No século XIII, surgem as vilas fortificadas de iniciativa
régia, com funções de capitalidade sobre um território mais ou menos vasto, o
respectivo termo. Em 1273, D. Afonso III concedeu carta de foral a “hominibus populatoribus de villa mea de Montefort
i de Rio Livre”(cit.in GOMES 1993), na tentativa de
fomentar o seu povoamento, denominando-se agora Monforte de Rio Livre. No reinado do mesmo monarca, procedeu-se à reconstrução do Castelo
e das suas muralhas após as guerras contra Leão. Esta reconstrução foi
concluída no reinado de D. Dinis, ficando o Castelo dotado de torre de menagem
e sendo ampliada a muralha da vila. Face ao carácter de vila fronteiriça, a
fundação da mesma parece representar uma iniciativa associada à estabilização e
consolidação da fronteira Norte do Reino, defendendo um eixo natural de
penetração no território nacional (TEIXEIRA 1996).O Castelo de Monforte sofreu
várias obras de recuperação militar e civil nos séculos seguintes, nomeadamente
nos reinados de D. Fernando, D. João I e D. Manuel I. As
dificuldades de manutenção e povoamento da vila encontram-se bem
evidentes quando em 1420 foi instituído o couto de homiziados, por D. João I, pois “dicta
vjlla he muj desfraudade por seer mujto no stremo e por razam das guerras passadas”(cit.in GOMES
1993), com o propósito de aumentar o povoamento e garantir a defesa do
território à custa dos homiziados, que, em contrapartida,
logravam alcançar o perdão (MORENO 1986), ou
quando D. João II determina que “os
moradores das aldeias e casais a um alégua de distancia, se recolhessem e
viessem morar continuamente muros adentro da vila”(cit.in TEIXEIRA
1996). Em 1512, foi concedido novo foral à vila por D. Manuel I, na tentativa
de evitar o seu despovoamento. Os forais outorgados a um território despovoado
ou raiano, como no caso de Monforte de Rio Livre, apresentam como particularidade
uma certa ligeireza fiscal, com o intuito de favorecer a fixação das populações
nas zonas mais agrestes (CASTRO 2002). No numeramento
de 1527-1532, viviam na vila apenas trinta moradores, quando vários lugares do seu
extenso termo, com 862 moradores distribuídos por 44 aldeias, ultrapassavam já
aquele número (GOMES 1993). Em 1796, a vila encontrava-se “quasi despovoada e arruinada, pois não tem
mais do que cinco moradores, três dentro dos demolidos muros e dous da parte de
fora”(cit.in TEIXEIRA
1996)
A vila persistiu até
meados do século XIX, embora nunca tenha
sido demasiado povoada, até que, em 1853, foi abandonada devido à extinção do concelho
de Monforte de Rio Livre, em consequência das reformas administrativas de
Mouzinho da Silveira.
Por Zeca Soares
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Boletus Edulis e o Crescente Fértil
Diz-se que o crescente fértil estava localizado, algures, no
médio oriente. Não tendo dados para contrapor tal teoria, atrevo-me no entanto
a questionar a existência de apenas um.
Pedome brinda-nos com prendas inusitadas que nos fazem
apreciar ainda mais a sua natureza generosa. Depois das batatas, o vinho e
entre este e as castanhas, sem qualquer cultivo ou trabalhos que não sejam os
de os descobrir, os “Niscarros”. E aqui estão eles, os primeiros, dos
castanheiros, de seu nome original Boletus Edulis. E que grande que é o
prazer de os apanhar, só ultrapassado, eventualmente, pelo de os comer.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
As origens de Pedome 3
(esquerda) Alto-Tâmega. Fortificações
e Castelos cabeça-de-Terra (Sécs. XI-XII).
(direita) Alto-Tâmega. Vilas urbanas
fortificadas (Sécs. XIII-XIV). Vila de fundação régia (quadrado
negro). Vilas novas cuja fundação não teve sucesso (quadrados cinzentos).
O terceiro e último “momento” que elegemos nesta abordagem é o que corresponde à afirmação e consolidação do espaço da monarquia portuguesa cuja estruturação pleno medieval expressa já um outro modelo de organização do território, com amplos reflexos na distribuição e enquadramento das populações, nas formas do habitat e também nas características e função desempenhada pelos castelos e fortificações da região.
Após a fase de afirmação dos poderes senhoriais das
principais linhagens, fortemente ligada ao controlo e posse de castelos,
assistiu-se, entre a segunda metade do século XIII e os primeiros anos do
século seguinte, a um vasto processo de reorganização territorial que deu
origem à promoção de uma nova forma de habitat concentrado e fortificado, a
vila, investida por iniciativa régia de funções de capitalidade sobre um
território mais ou menos vasto, o respectivo termo.
No novo modelo de organização do território
cada vila recebeu geralmente como termo uma área que podia ser coincidente com a antiga Terra,
resultar da integração de várias destas antigas circunscrições ou do seu
desmembramento. Promovido e incentivado pelos monarcas, este modelo de ordenamento
do espaço, que não é exclusivo e convive com outros, de natureza senhorial, com
os quais se geram frequentes conflitos, adapta-se melhor a uma organização
socio-política e económica em que as actividades artesanais e o desenvolvimento
do comércio ganham um peso crescente.
Ele reflecte também uma conjugação mútua de interesses
em que o poder régio se afirma perante as comunidades de homens livres, subtraindo-os
da órbita de outros poderes senhoriais, tendo como contrapartida o
reconhecimento e garantia, por parte do monarca, dos direitos e organização
tradicional destas comunidades.
Não foi um processo simples nem linear e teve muitas
cambiantes no tempo e no espaço. Na área duriense, os resultados foram
desiguais devido a diversos factores, entre os quais o diferente peso
e poder das comunidades concelhias pré-existentes, a menor ou mais
intensa senhorialização laica ou eclesiástica que serviu frequentemente como
obstáculo à constituição e afirmação de comunidades fortes e organizadas, ou
ainda o próprio índice de ocupação do espaço, traduzido numa maior concentração
ou dispersão do habitat.
Na região do Alto-Tâmega, onde se consolida a constituição
da fronteira norte do Reino, afirmam-se dois centros importantes que irão
polarizar a organização dos territórios baixomedievais: as vilas fortificadas
de Chaves e de Monforte de Rio Livre. Esta encontrava-se já perfeitamente
estabelecida em 1273. A primeira conheceu vicissitudes que em
parte desconhecemos, principalmente na fase inicial do processo, anterior
a 1258. Alude-se a uma tentativa efémera de constituição de uma Póvoa de
Santo Estêvão de Chaves cujos vestígios julgamos ter identificado numa
área situada entre o Castelo de Santo Estêvão de Chaves e a actual cidade
(TEIXEIRA, 1996; 2002).
Em 1258 a vila de Chaves aparece já em
coincidência topográfica com a antiga Aquae
Flaviae, mas o seu termo era ainda
extremamente reduzido, confinando-se a uma pequena faixa situada na margem
direita do Tâmega, aproximadamente equivalente às actuais freguesias de Outeiro
Seco, Curalha e Redondelo.
É provável que a ampliação do termo se tenha
verificado ainda no reinado de D. Afonso III, integrando-se nele o território
de Montenegro – que ainda aparece com autonomia em 1258.
Porém só no reinado seguinte, em 1304, ficará o
território de Montenegro definitivamente integrado no termo de Chaves, após um
período de conflitos e negociações que acabou por inviabilizar o sucesso de uma
vila urbana que chegou a estar criada naquele espaço – Vila Boa de Montenegro.
A partir de então Chaves irá afirmar-se cada vez mais como fortificação
avançada – e mais tarde como praça-forte – situada na primeira linha de uma
fronteira que a monarquia portuguesa pretendia consolidar.
NB --> ler anteriormente a
partir página 48 -> começando no parágrafo " Relativamente a
Chaves
o panorama não é muito diferente." ...
Por: Zeca Soares
domingo, 13 de outubro de 2013
Colheita de 2013
O vinho tem destas coisas, alegra-nos a alma e cansa-nos o corpo, mas a recompensa vale todo o esforço, quando finalmente se enchem as pipas com a canseira do ano.
Apontando o densímetro para um teor de açúcar a rondar a marca 8, estava na altura de encubar. Talvez mais um dia de lagar não lhe fizesse mal, mas teve que ser.
Dir-se-ia que se fechou o ciclo, mas tal não é verdade. Na realidade o ciclo do vinho não dura um ano, havendo sobreposição de atividades de uma colheita com a posterior.
A deste ano já está nas pipas, mas o trabalho continua. Depois de fazer a aguardente do bagaço, serão feitas as análises, lá para fevereiro, ao que se seguirá a trasfega e, correndo bem, terminará então aí a época.
Tchim! Saúde, viva a colheita de 2013, já é uma certeza.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
As origens de Pedome - 2
A iniciativa de fazer
vila
"Mando
fazer villa no lugar de ..." é a expressão que tão frequentemente vemos utilizada
em cartas expedidas pelas chancelarias de D. Afonso III e D. Dinis assinalando
o local e a vontade régia na criação de um novo núcleo urbano.
Se
fazer villa tinha, obviamente, um significado demográfico de
incremento do povoamento, é numa multiplicidade de outros significados que
adquire toda a sua dimensão histórica de modo de reorganização e
hierarquização de um território já povoado e portanto, de criador do espaço de
exercício do poder da Monarquia emergente.
Os
principais e mais dinâmicos novos núcleos urbanos, então criados em
Trás-os-Montes e no Vale do Douro, mostram uma intenção e plano que decorre do
poder régio, são os centros estruturadores do território, como Bragança, Vila Real, Chaves ou Miranda do
Douro.
Noutros
exemplos, observamos uma persistente atenção régia na reorganização de um
território específico, no interior do qual se sucede mas iniciativas
conducentes à criação dos novos centros durante um espaço de tempo
relativamente curto. São os casos de Mirandela, Torre de D. Chama e Lamas de
Orelhão que emergem na antiga terra de Ledra sob a acção de D.Dinis
ou das vilas de Torre de Moncorvo, Vila Flor e Alfândega da Fé que,
igualmente sob iniciativa de D. Dinis, reorganizam o anterior termo da
Santa Cruz da Vilariça entre1285 e 1295.
Porém,
casos há em que a iniciativa parece estar mais do lado das comunidades, as
quais procuram no rei apenas um apoio necessário. Estes casos, em que a
primeira iniciativa parece pertencer às comunidades, surgem mais
frequentes num momento tardio, talvez mostrando comunidades que teimavam em não
ficar de fora do processo global de redistribuição do poder sobre o
território. Verifica-se também serem muitas vezes votados ao fracasso como
sucede com São João da Lomba (actual concelho de Vinhais) ou Vila Boa
de Montenegro (actual concelho de Chaves).
A escolha de uma nova
implantação e a construção da cerca e do castelo.
Fazer vila obrigava na maior parte dos casos à escolha de
uma nova implantação. Escolhem-se então locais que, para além de mostrarem
favoráveis condições naturais de defesa, se procura destacados, facilmente
identificáveis à distância e possuindo amplo controlo visual do espaço
envolvente, características adequadas a um centro de território. Implantações
de altura portanto, porém, oferecendo amplas plataformas capazes de albergar
áreas de habitação suficientemente dimensionadas a uma população que se
pretendia numerosa, rodeadas obrigatoriamente por um muro de cerca.
A expressão
fazer vila, era sinónimo de fortificar uma povoação. A responsabilidade
da construção das fortificações, obras que implicavam sempre uma larga despesa,
só compatível com grandes disponibilidades financeiras, era do Rei. Em alguns
casos, porém, em que a iniciativa da fundação da vila surgiu da parte das
próprias comunidades, estas obrigaram-se a fazer "huma cerca de
muro à ssa custa".
São
exemplo desta situação as tentativas já referidas de criação da Vila Boa
de Montenegro, em 1301, de São João da Lomba, em 1324, ou de Lamas de
Orelhão no reinado de D. Sancho II. Ao facto de serem todas ensaios frustrados
de fundação de novas vilas não será alheio o peso financeiro implicado nas
obras de fortificação que se obrigavam a custear. A iniciativa régia surge bem
documentada, por exemplo, quando D. Dinis decide recomeçar o repovoamento de
Vila Real e lhe outorga em 1289 um novo foral. Faz então mencionar que a
ele competia fazer "seu muro logo e bóó "para o
guardar depois o "conçelho assy come costume do Reyno".
Distingue-se
também a construção, mais urgente e necessária, do muro da cerca da vila do
castelo ou alcácer que, se o rei o quisesse fazer, deveria aí meter seu
alcayde sendo que este nada teria a ver com a administração das
justiças mas apenas e exclusivamente com guardar seu castelo.
Idênticas disposições surgem no texto do novo foral outorgado pelo mesmo rei,
apenas quatro anos depois, quando afirma "eu deuo fazer o muro
da vila bóó e cercala toda" acrescentando de seguida
que "sse perventura eu ou meus successores fezermos
hy Alcacer devemos hy meter Alcayde que o guarde".
Porém, ainda em 1304, não estava nem uma nem outra obra sequer começadas,
declarando o mesmo rei D. Dinis que lhe ficava de "fazer o muro em
essa vila quando o poder fazer querendo deus !"
Por Zeca Soares
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Vindima
O São Pedro milagreiro, teve o dom de transformar alguma água em vinho. Quando já nada se esperava desta colheita, depois de forte trovoada e prolongada seca, eis que vêm uns dias de chuva, fazer o milagre da multiplicação ou, neste caso, da adição.
E assim, contrariamente ao que se esperava, a colheita foi abundante.
Não há nada mais generoso, apesar de inesperado, como a natureza: Sempre transforma em Certezas as colheitas mais Incertas.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
As origens de Pedome
O CONCELHO DE BRAGANÇA
O primeiro nome dado à área que formou o Concelho de Bragança foi
Benquerença.
Esta vila, foi trocada por D. Sancho I (1174-1211) com o Mosteiro de Castro
de Avelãs pelas vilas de Pinelo e Santulhão. Preocupado com a defesa e com
a povoação do Nordeste do seu reino, outorgou o Foral de Bragança em 1187.
Por causa dos privilégios concedidos neste Foral, D. Dinis, passado um
século, determinou que a maioria dos Concelhos criados ou reconhecidos na
região de Trás-os-Montes, receberiam as mesmas prerrogativas para prosseguirem.
Deviam ainda seguir o foro e o costume deste Concelho. O Concelho de Bragança
estava isento do pagamento de maninhadêgos, que era o imposto devido pela morte
do homem ou mulher que não tivesse feito testamento deixando a herança a algum
parente, ou que não tivesse filho, ou seja, herdeiro direto. O juiz e o saião não
podiam entrar no Concelho. Os habitantes deste Concelho, para além do
estritamente devido, não estavam obrigados a reverenciar nem os Nobres e nem os
Clérigos; estavam isentos do pagamento de portagem sobre os produtos que
produzissem e os fossem comercializar em qualquer parte do reino, e ademais,
com a intenção de o povoar, o Rei permitiu que “servos, homizias e adúlteros
poderiam nele se refugiar, que não seriam perseguidos.
O Concelho recebeu, ainda, vários privilégios que mais tarde foram adotados
pelos outros Concelhos das proximidades.
O estabelecimento de Concelhos no Nordeste trasmontano tinha como objetivo,
para além do povoamento, de diminuir o poder dos Nobres, e em particular dos
Clérigos na região.
O grande proprietário de terras nessa área era o Mosteiro de Castro de
Avelãs. D. Dinis necessitava povoar a região, pois tratava-se de local
fronteiriço e que requeria uma ocupação efetiva. Ao mesmo tempo, o Monarca
necessitava consolidar o seu poder nessas terras em que
os Clérigos eram os grandes responsáveis pelo início da sua ocupação.
Assim, era importante que o Monarca se preocupasse em diminuir o poder da
Igreja na região e consolidasse o seu. O caminho encontrado para atingir os
seus objetivos foi a criação de novos Concelhos e/ou o reconhecimento das
comunidades existentes que já possuíam uma administração local. Essa
administração podia ou não contar com o apoio dos Clérigos do Mosteiro de
Castro de Avelãs.
Dessa forma, inicialmente o Monarca procedeu como D. Sancho I, ou seja,
realizou algumas permutas de aldeias com o Mosteiro de Castro de Avelãs, para
depois outorgar as Cartas Forais que tornavam as comunidades um pouco mais
independentes das Outras Ordens. Mesmo que as aldeias viessem a voltar para o
controle dos Clérigos, dificilmente seriam as mesmas, pois a introdução de
práticas e costumes diferentes possibilitou a cristalização de novas
características que seriam difíceis de serem alteradas.
Por Zeca Soares
Fonte :
Subscrever:
Mensagens (Atom)